O tema
guerra sempre foi muito polêmico no Cristianismo, pois desde a Igreja Primitiva
esse tema é discutido. Alguns Pais da Igreja demonizaram o serviço militar, mas
outros Pais da Igreja defenderam a guerra justa abertamente. Devido ao culto
imperial e os sacrifícios aos deuses, a maior parte dos cristãos se recusaram a
se alistar no Exército. Os cristãos primitivos começaram a se alistar em grande
número no Exército a partir do ano 170, durante o reinado do imperador Marco
Aurélio, por causa da ameaça dos bárbaros que colocavam em risco a segurança do
Império Romano e de seus cidadãos. O serviço militar era voluntário na época em
que Roma estava em paz. Todos sabem que o Antigo Testamento ordenava até a pena
de morte, e apoiava abertamente as guerras. Então, é lícito os cristãos hoje
participarem de guerras, quando elas são travadas por razões justas? Neste
artigo, pretendo mostrar as opiniões dos grandes teólogos da História do
Cristianismo e o que a Bíblia diz a esse respeito.
“Disse
Daniel: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele é a
sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e
estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos entendidos”.
(Daniel 2:20-21)
O profeta Daniel foi bem claro
quando afirmou que Deus remove os reis e estabelece os reis, ou seja, Deus
levanta os reis e derruba os reis do poder como bem entende. Há outra parte do
Livro de Daniel que também fala a esse respeito.
“Mas, quando o seu
coração se exalçou e o seu espírito se endureceu em soberba, foi derribado do
seu trono real, e passou dele a sua glória. E foi tirado dentre os filhos dos
homens, e o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi
com os jumentos monteses; fizeram-no comer erva como os bois, e pelo orvalho do
céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem
domínio sobre os reinos dos homens e a quem quer constitui sobre eles”. (Daniel
5:20-21)
O profeta Daniel, que também era um
governante a serviço de Deus, declarou várias vezes (isso está registrado no
Livro que leva o seu nome) que Deus tem o domínio sobre os reinos dos homens e
coloca no poder a quem Ele quer. Deus tem o total controle sobre os reinos da Terra,
porque Ele é o verdadeiro Rei das Nações.
“Todos devem
sujeitar-se às autoridades superiores; porquanto, não, há autoridade que não
venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Ele. Portanto, quem se
recusa a submeter-se à autoridade está se colocando contra o que Deus
instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos.
Porque os governantes não podem ser motivo de temor para os que praticam o bem,
mas para os que fazem o mal. Não queres sentir-se ameaçado pela autoridade?
Faze o bem, e ela o honrará. Pois ela serve a Deus para o teu bem. Mas, se
fizerdes o mal, teme, pois não é sem razão que traz a espada. É serva de Deus,
agente da justiça para punir quem pratica o mal. Portanto, é imprescindível que
sejamos submissos às autoridades, não apenas devido à possibilidade de uma
punição, mas também por causa da consciência. Por esta razão, igualmente pagais
impostos; porque as autoridades estão a serviço de Deus, e seu trabalho é zelar
continuamente pela sociedade. Dai a cada um o que lhe é devido: se imposto,
imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra”. (Romanos
13:1-7)
O apóstolo Paulo no capítulo 13 da
Carta aos Romanos confirmou exatamente a mesma coisa que o profeta Daniel
afirmou no passado, ou seja, que Deus estabelece as autoridades governamentais.
O Estado é servo de Deus para punir os malfeitores.
Paulo também ensinou que todos os
cidadãos (principalmente, os cristãos) devem pagar todos os seus impostos,
porque o dinheiro deve ser usado para a manutenção das Forças Armadas e das
polícias para garantirem a segurança do país e para castigarem os homens que
praticam o mal. Para Paulo, os agentes do Estado (governantes, magistrados e
soldados) estão a serviço de Deus para o bem-estar da sociedade. Portanto, os
cristãos devem se sujeitar a eles. O dever das autoridades é punir os maus e
louvar os bons. Pelo menos, era assim que Paulo acreditava. Paulo falou da
espada como instrumento nas mãos do Estado (a espada é freqüentemente associada
à morte na Bíblia, então, isso indica que Paulo era a favor da pena de
morte).
“Antes de tudo,
pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se
acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com
toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus nosso Salvador,
o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento
da verdade”. (1 Timóteo 2:1-4)
O apóstolo Paulo ensinou os cristãos
a intercederem em favor dos homens investidos de autoridade (governantes,
magistrados e soldados), porque é da vontade de Deus que as autoridades sejam
salvas e conheçam a Verdade. Paulo, em outra parte da Bíblia, também ensinou que
os cristãos devem estar dispostos a auxiliar as autoridades em tudo o que for
preciso e necessário.
“Nenhum soldado em
serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o
alistou para a guerra”. (2 Timóteo 2:4)
Para Paulo, o serviço militar é um
bom exemplo a ser seguido pelos cristãos, porque os cristãos devem ser
altamente disciplinados, cumprir com o seu dever, e obedecer às ordens de seu
Senhor exemplarmente.
“Sujeitai-vos a
toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano;
quer às autoridades como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores,
como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que,
pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres
que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo
como servos de Deus. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus,
honrai ao rei”. (1 Pedro 2:13-17)
O apóstolo Pedro, assim, como o
apóstolo Paulo e o profeta Daniel, também reconheceu que as autoridades
governamentais são legítimas e necessárias na ordem estabelecida por Deus. Para
Pedro, a função das autoridades é castigar os malfeitores e louvar os homens
que praticam o bem. Paulo tinha exatamente a mesma opinião. Ambos os apóstolos
legitimaram o uso da força por parte do Estado (da violência mesmo) para punir
os criminosos perigosos que ameaçam a sociedade.
“Também soldados
lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis,
não deis denúncia falsa, e contentai-vos com o vosso soldo”. (Lucas 3:14)
Para João Batista, o serviço militar
é algo lícito para o servo de Deus exercer como profissão. O precursor do
Messias, que é considerado o maior de todos os profetas, e o homem mais justo
que já existiu sobre a Terra, quando batizou alguns soldados, não os recriminou
por serem militares, pelo contrário, lhes incentivou a permanecerem no
Exército, portanto, que eles fossem justos e honestos.
A Bíblia menciona sobre centuriões
que eram homens bons que exerciam a sua profissão com honra, ou seja, que eram
honestos e íntegros. O centurião Cornélio até se converteu ao Cristianismo. Na
Bíblia não está escrito que Cornélio abandonou a sua centúria e a Bíblia relata
que ele foi batizado ainda sendo um oficial romano.
Agora, contarei as opiniões dos Pais da Igreja sobre os
temas, guerra e política. Os Pais da Igreja foram grandes teólogos da Igreja
Primitiva (muitos eram até filósofos e historiadores), que ensinavam aos
cristãos os ensinamentos da Palavra de Deus. Muitos deles pregaram heresias,
mas outros foram fiéis ao Evangelho puro e simples. Também tiveram os Doutores
da Igreja, que surgiram com a conversão do Império Romano ao Cristianismo.
Tanto os bispos primitivos quanto os Doutores da Igreja foram homens
importantes para a História da Igreja Cristã.
Clemente de Roma, conhecido como Clemente Romano, foi
discípulo do apóstolo Pedro e cooperador do apóstolo Paulo. Clemente, em sua
Carta aos Coríntios, reconhece que as autoridades governamentais são legítimas,
e até elogia os soldados os usando como bom exemplo a ser seguido pelos
cristãos. Clemente de Roma ensinou os cristãos a orarem em favor dos
governantes, porque eles são instituídos por Deus.
Policarpo de Esmirna foi discípulo do apóstolo João, e em
seu martírio, registrado no livro “História Eclesiástica” de Eusébio de
Cesaréia, ele afirma em seu julgamento, antes de ser martirizado, que as
autoridades governamentais são estabelecidas por Deus; e de que é digno pagar
os tributos e os impostos aos governantes. Os Pais Apostólicos reconheciam a
legitimidade das autoridades.
Clemente de Alexandria além de
reconhecer a legitimidade das autoridades governamentais, também apoiava a
guerra justa, pois ele era totalmente a favor do serviço militar. Clemente além
de apoiar as guerras justas, também apoiava as revoluções justas contra
governos tirânicos e opressores. Clemente de Alexandria também defendia a
prática de esportes (como o Pancrácio, a arte marcial grega). Ao contrário de
seu discípulo, Orígenes de Alexandria, Clemente não via problema algum em
cristãos matarem nas guerras e revoluções justas.
Justino Mártir, Ireneu de Lyon,
Teófilo de Antioquia, Melitão de Sardes, Eusébio de Cesaréia e outros bispos da
Igreja Primitiva, também reconheceram que as autoridades governamentais são
legítimas e estabelecidas por Deus. Essa “historinha” de que todos os Pais da
Igreja do Cristianismo Primitivo condenavam o serviço militar é mentira do
Diabo, porque isso não tem embasamento histórico e nem bíblico.
Agostinho de Hipona foi o maior de
todos os Pais da Igreja, e ele foi o responsável por desenvolver a teologia da
guerra justa. Agostinho defendia a pena capital e ensinava claramente que os
cristãos têm a obrigação de participarem de guerras justas para promoverem a
justiça.
Ambrósio de Milão era mestre de
Agostinho, pois foi ele quem o batizou. Ambrósio também era favorável a pena
capital e apoiava a guerra justa, pois ele também reconhecia a legitimidade das
Forças Armadas.
Jerônimo de Strídon foi o homem que
criou a “Vulgata” (a versão em latim
da Bíblia). Esse Doutor da Igreja conhecia a Bíblia inteira, então, ele podia
falar com propriedade dos ensinamentos contidos nela. Jerônimo era a favor da
pena de morte e também apoiava a guerra justa.
Tomás de Aquino, um Doutor da Igreja
da Idade Média, além de apoiar a guerra justa e a pena capital, também apoiava
a legítima defesa, pois ele desenvolveu uma teologia para discutir sobre esse
assunto.
Os reformadores, Martinho Lutero,
João Calvino e Ulrico Zuínglio também apoiavam a guerra justa e eram favoráveis
a pena de morte. Os luteranos, os huguenotes, os puritanos e outros
protestantes empunharam armas não só para combater nas guerras justas, mas
também para lutarem em revoluções justas contra os seus perseguidores que os
perseguiam por causa do Evangelho.
No Concílio de Arles, em 314, a Igreja Primitiva
reconheceu o serviço militar como sendo algo lícito para os cristãos. Deus
nunca condenou as guerras justas.