INTRODUÇÃO:
O tema guerra sempre foi muito polêmico no Cristianismo, pois
desde a Igreja Primitiva esse tema é discutido. Alguns Pais da Igreja
demonizaram o serviço militar, mas outros Pais da Igreja defenderam a guerra
justa abertamente. Devido ao culto imperial e os sacrifícios aos deuses, a
maior parte dos cristãos se recusaram a se alistar no Exército. Os cristãos
primitivos começaram a se alistar em grande número no Exército a partir do ano
170, durante o reinado do imperador Marco Aurélio, por causa da ameaça dos
bárbaros que colocavam em risco a segurança do Império Romano e de seus
cidadãos. O serviço militar era voluntário na época em que Roma estava em paz.
Todos sabem que o Antigo Testamento ordenava até a pena de morte, e apoiava
abertamente as guerras. Então, é lícito os cristãos hoje participarem de
guerras, quando elas são travadas por razões justas? Neste artigo, pretendo
mostrar as opiniões dos grandes teólogos da História do Cristianismo e o que a Bíblia
diz a esse respeito.
No
século I, o Cristianismo era visto como uma ramificação do Judaísmo (religião
lícita para o Império Romano). Os judeus não eram obrigados a prestar culto ao
imperador, nem sacrificar aos deuses pagãos, e eram isentos do serviço militar.
Por causa disso, os cristãos primitivos nas primeiras décadas do primeiro
século não tiveram problemas com o governo romano. No princípio, quem perseguia
os primeiros cristãos era o Sinédrio, ou seja, os fariseus (os religiosos
fanáticos e fundamentalistas da época). O apóstolo Paulo foi um grande
perseguidor da Igreja, a mando do Sinédrio. No ano 64, com o incêndio terrível
que devastou Roma, Nero, acusou os cristãos de tê-lo provocado, por isso,
começou a primeira perseguição estatal contra os cristãos.
Há
três pontos que devo destacar sobre o fato de quase todos os primeiros cristãos
não terem se alistado no Exército e nem terem ocupado cargos públicos até o
final do século II (existiram cristãos no Exército e ocupando cargos públicos
antes do ano 170 sim, mas eram poucos). Em primeiro lugar, o culto imperial, os
sacrifícios aos deuses, as práticas idolátricas nas cerimônias cívicas e
religiosas, os juramentos pelos deuses, e a perseguição estatal contra o
Cristianismo, dificultavam que os cristãos se envolvessem com o Estado. Em
segundo lugar, as guerras que o Império Romano promovia não eram para a defesa
da nação, mas, sim, para oprimir e escravizar outros povos através da força
militar. Em terceiro lugar, Jesus Cristo, João Batista, os apóstolos, e os Pais
Apostólicos, nunca demonizaram o serviço militar e a política, pelo contrário,
esses homens santos reconheciam a legitimidade e a necessidade de se existir um
Estado para poder manter a lei e a ordem na sociedade. Jesus e Paulo ordenaram
aos cristãos pagarem todos os seus impostos, sabendo que o dinheiro era usado
para a manutenção do Exército. Pedro e Paulo ensinaram à submissão as
autoridades governamentais e reconheceram que é a função do governo castigar os
malfeitores e louvar os cidadãos de bem.
Neste
artigo, mostrarei os argumentos bíblicos a favor do serviço militar e da
política, e também as opiniões dos apóstolos, dos Pais da Igreja, e dos
reformadores sobre esses assuntos tão polêmicos. Mostrarei que o pacifismo não
é bíblico, pois a Bíblia, a Palavra de Deus, nunca apoiou tal ideologia, mas,
sim, sempre defendeu o direito das pessoas inocentes se defenderem de
agressores injustos, e de que é o dever do Estado punir os maus e louvar os
bons.
A OPINIÃO DO PROFETA DANIEL:
“Falou Daniel e
disse: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a
sabedoria e a força; ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e
estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos entendidos”.
(Daniel 2:20-21)
O profeta Daniel foi bem claro quando afirmou que Deus remove os
reis e estabelece os reis, ou seja, Deus levanta os reis e derruba os reis do
poder como bem entende. Há outra parte do Livro de Daniel que também fala a
esse respeito.
"Mas, quando o seu coração se tornou arrogante e endurecido por causa do orgulho, ele foi deposto de seu trono real e despojado da sua glória. Foi expulso do meio dos homens e sua mente ficou como a de um animal; ele passou a viver com os jumentos selvagens e a comer capim como os bois; e o seu corpo se molhava com o orvalho do céu, até reconhecer que o Deus Altíssimo domina sobre os reinos dos homens e coloca no poder a quem ele quer". (Daniel 5:20-21)
O profeta Daniel, que também era um governante a serviço de Deus,
declarou várias vezes (isso está registrado no Livro que leva o seu nome) que
Deus tem o domínio sobre os reinos dos homens e coloca no poder a quem Ele
quer. Deus tem o total controle sobre os reinos da Terra, porque Ele é o
verdadeiro Rei das Nações.
JESUS E AS
AUTORIDADES DO SEU TEMPO:
“Jesus, aquele a quem em tudo devemos imitar, veio ao mundo em uma
época difícil. O seu país estava sob o domínio do poderoso Império Romano e
muitos dos direitos dos cidadãos do seu povo não eram respeitados. César era o
soberano senhor de um vasto império e mantinha o poder com mão de ferro. Além
disso, as autoridades religiosas do seu país haviam se corrompido a tal ponto
que foi preciso Ele fazer uma "limpeza" no Templo expulsando os
camelôs e os cambistas de lá.
Contudo, por pelo menos duas vezes, Jesus defrontou-se com
momentos decisivos na área de submissão a autoridade. A primeira delas foi
quando os cobradores do imposto do Templo confrontaram a Pedro perguntando se
Jesus pagava ou não o imposto das duas dracmas (Mt 17:24-27). A segunda foi
quando alguns espertalhões, que o queriam pegar em cilada, lhe perguntaram se
era certo ou não pagar imposto a César (Mt 22:15-22; Mc 12:13-17; Lc 20:20-25).
Na primeira ocasião, Jesus disse a Pedro, que fosse ao mar e
lançasse o anzol, pois no primeiro peixe que ele fisgasse teria uma moeda de
valor suficiente para pagar o imposto de Jesus e o dele. Na segunda ocasião, a
resposta d’Ele foi: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o
que é de Deus". Ou seja, ao filho de Deus é certo pagar imposto ao
Estado. Mas a autoridade do Estado não é ilimitada, acima dele está Deus. O
Deus que a tudo vê e conhece o coração de todos os homens. Até mesmo o de
César! A César o imposto; a Deus, e somente a Ele, a adoração.
Atentar para o verbo grego usado por Jesus, nos ajudará a entender
a força e o sentido do mandamento do Senhor. Ele usou o verbo apodote
(de apodidomi - que significa: dar o que é devido; devolver; pagar de volta;
entregar) em lugar de dounai (de didomi - que significa simplesmente
dar). Os três evangelistas usaram a mesma palavra, significando assim que temos
uma obrigação tributária para com o Estado.
Quando caiu nas mãos das autoridades judaicas que o entregaram
para as autoridades romanas, Jesus, não questionou o seu poder, aliás, o seu
abuso de poder. Por que Ele não fez isso? Creio que a sua resposta a Pilatos
nos ajuda a entender a sua atitude aparentemente apática. Pilatos lhe disse que
tinha autoridade para matá-lo ou para livrá-lo da morte. Então, Jesus lhe
disse: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse
dada" (Mt 22:37). Ou seja, Jesus sabia que acima de Pilatos, acima do
Império Romano estava aquele que tem o controle total da situação, Deus.
Pilatos estava no poder porque Deus, por mais contraditório que pareça, o havia
colocado ali.
Assim sendo, podemos notar que até mesmo aquele que tem todo o
poder do universo, o Senhor Jesus, quando se fez homem respeitou e obedeceu a lei
dos homens.”
(Jabesmar A. Guimarães)
A OPINIÃO DO APÓSTOLO PAULO:
“Todos devem
sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha
de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto,
aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus
instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos. Pois
os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você
quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá.
Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo,
pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para
punir quem pratica o mal. Portanto, é necessário que sejamos submissos às
autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também
por questão de consciência. É por isso também que vocês pagam imposto, pois as
autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. Dêem a
cada um o que lhe é devido: se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor,
temor; se honra, honra”. (Romanos 13:1-7)
No Novo Testamento, o apóstolo Paulo confirma exatamente a mesma
coisa que o profeta Daniel ensinou, ou seja, de que as autoridades governamentais
são estabelecidas por Deus. Paulo ainda vai mais além, pois ele também disse
que o Estado é servo de Deus para punir os malfeitores. Paulo não só considera
as autoridades legítimas, como também diz que os governantes, magistrados e
soldados têm a autorização de Deus para usarem a espada para castigar os maus.
A palavra grega usada para espada é “machaira”
que é um símbolo da pena capital. Paulo indica que era a favor da pena de
morte quando usa a espada como símbolo da punição do Estado.
Paulo também ensinou que todos os cidadãos (principalmente, os
cristãos) devem pagar todos os seus impostos, porque o dinheiro deve ser usado
para a manutenção das Forças Armadas e das polícias para garantirem a segurança
do país e para castigarem os homens que praticam o mal. Para Paulo, os agentes
do Estado (governantes, magistrados e soldados) estão a serviço de Deus para o
bem-estar da sociedade. Portanto, os cristãos devem se sujeitar a eles. O dever
das autoridades é punir os maus e louvar os bons. Pelo menos, era assim que
Paulo acreditava.
“Estas são as minhas instruções: Ore,
faça súplicas, pedidos e dê graças por todos os homens. Ore dessa forma pelos
reis e por todos os outros que exercem autoridade sobre nós ou que ocupam
cargos de alta responsabilidade, a fim de que possamos viver em paz e
tranqüilidade, passando o nosso tempo vivendo piedosa e dignamente. Isto é bom
e agradável a Deus, nosso Salvador. Pois ele deseja que todos sejam salvos e
compreendam esta verdade”: (1 Timóteo 2:1-4)
O apóstolo Paulo ensinou os cristãos a
intercederem em favor dos homens investidos de autoridade (governantes,
magistrados e soldados), porque é da vontade de Deus que as autoridades sejam
salvas e conheçam a Verdade. Paulo, em outra parte da Bíblia, também ensinou
que os cristãos devem estar dispostos a auxiliar as autoridades em tudo o que
for preciso e necessário.
“Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios
desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra”. (2 Timóteo
2:4)
Há muitas semelhanças entre a vida
cristã e o serviço militar, por isso, o apóstolo Paulo vivia comparando ambos.
Os cristãos devem ser como soldados, isto é, devem acatar as ordens de seu
Senhor e cumprir a sua missão.
Paulo
evangelizou até a Guarda Pretoriana que o vigiava em uma ocasião. O apóstolo
aproveitou que os guardas pretorianos o vigiavam para lhes falar da Salvação de
Cristo. Em sua Carta aos Filipenses, Paulo até menciona sobre os santos do
palácio de César, que provavelmente eram esses guardas e outros funcionários do
governo que se converteram através dele.
A
OPINIÃO DO APÓSTOLO PEDRO:
Por causa do Senhor, sujeitem-se a
toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade
suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam
o mal e honrar os que praticam o bem. Pois é da vontade de Deus que, praticando
o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos. Vivam como pessoas livres,
mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de
Deus. Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e
honrem o rei. (1 Pedro 2:13-17)
O
apóstolo Pedro, assim, como o apóstolo Paulo e o profeta Daniel, também
reconheceu que as autoridades governamentais são legítimas e necessárias na
ordem estabelecida por Deus. Para Pedro, a função das autoridades é castigar os
malfeitores e louvar os homens que praticam o bem. Paulo tinha exatamente a
mesma opinião. Ambos os apóstolos legitimaram o uso da força por parte do
Estado (da violência mesmo) para punir os criminosos perigosos que ameaçam a
sociedade.
A OPINIÃO DE JOÃO BATISTA:
“Então, alguns soldados lhe perguntaram: E nós, o
que devemos fazer? Ele respondeu: Não pratiquem extorsão, nem acusem ninguém
falsamente, e contentem-se com o seu salário”. (Lucas 3:14)
João Batista, o
precursor do Messias, e o maior de todos os profetas, reconheceu a legitimidade
do trabalho do soldado, pois ele mesmo batizou alguns militares e lhes
incentivou a permanecerem no Exército, portanto, que eles fossem honestos e
justos. A própria Bíblia reconhece que João Batista foi o homem pecador mais
justo que já existiu sobre a Terra. Portanto, a opinião dele é válida. João
Batista não era um qualquer, mas era o precursor do Messias, isto é, o homem
que preparou o caminho para Jesus; e ele foi o maior profeta que já existiu.
Portanto, João Batista sabia o que estava fazendo quando batizou aqueles
soldados.
BONS
EXEMPLOS DE MILITARES BÍBLICOS:
“Morava em Cesaréia um
homem de nome Cornélio, centurião da coorte, chamada a italiana, piedoso e
temente a Deus com toda a sua casa, e que fazia muitas esmolas ao povo e de
contínuo orava a Deus”. (Atos 10:1-2)
O centurião Cornélio era um bom exemplo de militar, pois ele era
honesto, justo, íntegro, sabia amar ao próximo, e ainda buscava a Deus. A
Bíblia não compara o centurião Cornélio a uma prostituta (como as Testemunhas
de Jeová e os evangélicos pacifistas fazem), mas, sim, exalta as virtudes desse
centurião como homem, militar e cidadão. Cornélio, segundo a Bíblia, é um bom
exemplo a ser seguido.
“Tendo Jesus concluído
todas as suas palavras dirigidas ao povo, entrou em Cafarnaum. E o servo de um
centurião, a quem este muito estimava, estava doente, quase à morte. Tendo
ouvido falar a respeito de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus,
pedindo-lhe que viesse curar o seu servo. Estes, chegando-se a Jesus, com
instância lhe suplicaram, dizendo: Ele é digno de que lhe faças isto; porque é
amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. Então Jesus foi com
eles. E já perto da casa, o centurião enviou-lhe amigos para lhe dizer: Senhor,
não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa. Por isso,
eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda com uma palavra, e
o meu rapaz será curado. Porque também sou homem sujeito à autoridade, e tenho
soldados às minhas ordens, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele
vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. Ouvidas estas palavras, admirou-se
Jesus dele e, voltando-se para o povo que o acompanhava, disse: Afirmo-vos que
nem mesmo em Israel achei fé como esta. E, voltando para casa os que foram
enviados, encontraram curado o servo”. (Lucas 7:1-10)
O
centurião de Cafarnaum também era um bom exemplo a ser seguido, pois o próprio
Jesus o admirou como ser humano e militar. Cristo elogiou até a sua fé, e
desprezou a religiosidade dos fariseus (as Testemunhas de Jeová e os
evangélicos legalistas da época). Jesus Cristo andava com prostitutas e
ladrões, e até elogiou um militar por sua fé e integridade, mas desprezou o
legalismo e o fanatismo religioso dos fariseus. A Palavra de Deus afirma que os
governantes, magistrados e soldados são servos de Deus, isto é, estão a serviço
de Deus para o bem-estar da sociedade.
REFUTANDO OS ARGUMENTOS BÍBLICOS DOS PACIFISTAS:
Os cristãos pacifistas, para sustentar a heresia do pacifismo, se
utilizam de versículos bíblicos fora de contexto, então, eu mostrarei os
verdadeiros contextos dos versículos usados por eles. Para se compreender a
Bíblia é preciso lê-la em seu contexto histórico e cultural. Sempre devemos ler
os capítulos inteiros inseridos em seu contexto.
“No demais, irmãos
meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do
Diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto,
tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo
feito tudo, ficar firmes”. (Efésios 6:10-13)
Inúmeros
cristãos interpretam mal o capítulo 6 da Carta aos Efésios, porque eles
confundem guerra espiritual com pacifismo. O autor da Carta aos Efésios é
também o autor da Carta aos Romanos. O apóstolo Paulo, o autor de ambas as
Cartas, não era pacifista, pois se percebe claramente a sua posição em relação
ao Estado no capítulo 13 da Carta aos Romanos. No capítulo 6 da Carta aos Efésios,
o apóstolo Paulo usa puro simbolismo militar para se referir à armadura de
Deus. O apóstolo Paulo constantemente usava o serviço militar como bom exemplo
para a vida cristã. O fato de Paulo ter dito que a nossa luta não é contra
carne e sangue (muito deturpado pelos pacifistas hipócritas), não significa que
ele fez apologia ao pacifismo. O capítulo 6 da Carta aos Efésios não invalida o
capítulo 13 da Carta aos Romanos, portanto, o apóstolo Paulo não pregou o
pacifismo. O contexto de Efésios 6 é a luta da Igreja; e o contexto de Romanos
13 é a luta do Estado. A Igreja (instituição religiosa) não deve se engajar em
lutas armadas, mas o Estado (que é ministro de Deus) tem a obrigação de lutar
nas guerras físicas. A guerra da Igreja é espiritual; e a guerra do Estado é
física. Paulo não era bipolar e nem esquizofrênico, ou seja, ele não tinha uma
opinião em Romanos 13 e outra opinião em Efésios 6.
“Porque, andando na
carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são
carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas;”. (2
Coríntios 10:3-4)
Por isso, as armas carnais e humanas, tais como argúcia,
habilidade, riqueza, capacidade organizacional, eloqüência, persuasão,
influência e personalidade são em si mesmas inadequadas para destruir as
fortalezas de Satanás; porque as únicas armas adequadas para desmantelar os
arraiais do Diabo, as injustiças e os falsos ensinos são as armas que Deus nos
dá. Esse trecho não se refere às armas bélicas, mas, sim, a capacidade humana;
e para combater o Inferno precisamos das armas espirituais dadas por Deus, pois
somos incapazes de vencermos Satanás e os seus demônios sozinhos.
“Ouvistes que foi dito:
Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal;
mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;”.
(Mateus 5:38-39)
Os fariseus deturpavam as leis do Antigo Testamento para
incentivar as pessoas ao ódio e a retaliação, porque olho por olho e dente por
dente eram na verdade as punições aplicadas pelas autoridades nos malfeitores e
não um incentivo a represália do indivíduo. Jesus condenou a vingança pessoal e
não a legítima defesa, pois Ele usa muito simbolismo nas coisas em que ensina.
Cristo, em outra parte da Bíblia, ensinou que se a sua mão direita te fizer
pecar, se deve amputá-la. E se o seu olho direito te fizer pecar, se deve
arrancá-lo. Oferecer a outra face está inserido no mesmo contexto. Jesus não
falou para os cristãos se mutilarem e nem para serem sacos de pancadas dos outros.
Tudo isso é puro simbolismo.
“Então, Jesus lhe disse: Embainha a tua
espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão”. (Mateus
26:52)
Cristo não fez apologia ao pacifismo, mas, simplesmente, falou que
os violentos sofrerão violência. Se Pedro tivesse matado Malco, ele seria
punido com a morte pelo Estado Romano e Jesus quis impedir que isso
acontecesse. O próprio Cristo ordenou a Pedro para que ele comprasse aquela
espada. Jesus devia cumprir com a profecia a seu respeito e Pedro quis impedir
o cumprimento dessa profecia. Jesus não disse para Pedro jogar a espada fora,
mas apenas para guardá-la. Paulo reconhece que o Estado tem o poder da espada
para castigar os malfeitores (algo concedido e autorizado por Deus).
“E saberá toda esta congregação
que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra,
e ele vos entregará na nossa mão”. (Samuel 17:47)
Quando Davi afirmou que do Senhor é a guerra, ou seja, de que a
batalha pertence ao Senhor, ele quis dizer que nós, servos de Deus, devemos
confiar no Altíssimo e não em nossa própria força ou em armas bélicas;
entretanto, em nenhum momento, ele hesitou lutar contra Golias por causa disso,
porque ele confiava no Senhor dos Exércitos.
SOBRE O SEXTO MANDAMENTO:
Os heróis podem matar os vilões para proteger os inocentes se for
necessário, pois o mandamento “não matarás” em sua tradução correta significa
“não assassinarás”. O sexto mandamento em hebraico é “lo tirsah”, e em grego é “ou
foneuseis”, e em ambas as línguas usadas na Bíblia original, esse
mandamento se refere somente ao assassinato criminoso e nunca a legítima
defesa. Portanto, os inocentes têm o direito de se defender ou de serem
defendidos por alguém.
O verbo hebraico “ratsach”
usado nesse mandamento no Antigo Testamento, e o verbo grego “foneuo” usado nesse mandamento no Novo
Testamento, sempre são usados para se referir ao assassinato criminoso, e nunca
a legítima defesa e a pena capital. Tanto o verbo hebraico “ratsach” quanto o verbo grego “foneuo”
se referem ao homicídio ilícito. Portanto, matar para se defender ou para
proteger alguém não é pecado. Seria uma grande incoerência Deus mandar os
hebreus matarem nas guerras sendo que Ele mesmo disse “não matarás”, se no
sexto mandamento Deus não se referisse somente ao homicídio criminoso (Deus não
é bipolar).
SOBRE A OMISSÃO DIANTE DO MAL:
Muito se tem pregado no meio evangélico sobre a omissão diante do
mal, como se fosse obrigação dos cristãos se omitirem perante as coisas erradas
e serem apáticos diante da maldade. Neste texto, eu mostrarei o que a Bíblia
ensina que nós, cristãos, devemos fazer quando nos deparamos perante o mal, e
qual deve ser a nossa postura diante da maldade.
“Erga a voz em favor
dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a
voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados”.
(Provérbios 31:8-9)
A Bíblia é bem clara quando diz que a nossa obrigação é defender
aqueles que não podem se defender, ou seja, o nosso dever é lutar por aqueles
que não podem lutar por si mesmos. Portanto, é a nossa obrigação lutar por
eles.
“Não te furtes a fazer
o bem a quem de direito, estando na tua mão o poder de fazê-lo”. (Provérbios
3:27)
Se estiver em nossas mãos o poder de ajudar os outros, nós devemos
fazê-lo, porque essa é a vontade de Deus, que nós, cristãos, defendamos os
direitos dos fracos e oprimidos. Nós temos a obrigação de lutar pelos direitos
dos órfãos e das viúvas.
“Portanto, aquele que
sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando”. (Tiago 4:17)
Omitir-se diante do mal é um pecado hediondo, porque quem se omite
perante a maldade é tão ruim e perverso quanto quem a pratica. Os pecados de
omissão são tão graves quanto os pecados de comissão. Portanto, se omitir
também é pecado.
“O que justifica o
perverso e o que condena o justo, abomináveis são para o Senhor, tanto um como
o outro”. (Provérbios 17:15)
Quem condena o inocente e absolve o culpado é abominável para
Deus, porque Deus abomina a injustiça. Deus é tão santo e tão justo que Ele se
enoja de gente mesquinha e medíocre que adora defender bandidos e condenar
inocentes.
O opressor covarde sempre oprimirá quem é mais fraco ou quem não
reage, porque assim é mais fácil e não terá grande resistência. Mesmo que o
fraco não tenha condições de resistir por muito tempo, se ele ousar se opor a
opressão, o opressor provavelmente sentirá medo e procurará outro para oprimir.
Quando o forte oprime o fraco, ele também acaba se tornando fraco, porque assim
não se adquire experiência de luta e outro forte pode subjugá-lo.
SOBRE O
SERVIÇO MILITAR:
Sobre os juramentos (como o Juramento à Bandeira), Jesus Cristo
não condenou totalmente os juramentos. O que Jesus condenou foram às pessoas
que não têm palavra, e precisam se garantir em juramentos para os outros
acreditarem que elas estão falando a verdade. Algumas confissões de fé
protestantes explicam bem sobre isso. Não há problema algum em fazer juramentos
honrados em nome da paz, da justiça e do amor.
No Concílio de Jerusalém, em 50, os judeus cristãos decidiram que
todos os seguidores de Jesus não devem comer alimentos sacrificados aos ídolos,
nem praticar relações sexuais ilícitas, não comer animais que morreram
sufocados e nem beber sangue. Na 1 Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo
ensinou que os cristãos podem comer alimentos sacrificados aos ídolos sim,
portanto, que não escandalizem os irmãos “fracos” na fé. Se os cristãos orarem
para Deus abençoar os alimentos sacrificados aos ídolos, não há problema nenhum
em comê-los. O sexo deve ser praticado somente dentro do casamento mesmo. No
caso da proibição de comer animais que morreram sufocados isso era um ritual
religioso do Judaísmo e não significa nada para os cristãos de hoje. O sangue
foi proibido de ser ingerido, porque no contexto daquela época, os pagãos
bebiam sangue para adorar os seus deuses. Entretanto, hoje, não há problema
algum em comer frango ao molho pardo, chouriço ou até mesmo beber sangue de
galinha para sobreviver na selva.
Em relação à “cultuar as tradições”, na verdade, os militares não
prestam culto as tradições e nem aos heróis do passado, mas, simplesmente, eles
relembram os feitos do passado e prestam homenagens a esses grandes guerreiros,
no entanto, ninguém bate continência ou se curva diante de quadros e estátuas.
AS OPINIÕES DOS PAIS DA IGREJA E DOS REFORMADORES:
Muito se tem pregado que o Cristianismo Primitivo era contra o
serviço militar, mas será que isso é verdade? Será mesmo que os cristãos
primitivos condenavam o trabalho dos soldados? Pais da Igreja, como, por
exemplo, Tertuliano de Cartago, Hipólito de Roma, Orígenes de Alexandria,
Cipriano de Cartago e Lactâncio demonizavam o serviço militar, mas será que
existiram Pais da Igreja que pensavam diferente deles? Será mesmo que os
primeiros cristãos eram anarquistas e pacifistas? Já vimos que a Bíblia apóia o
serviço militar. Então, existiram bispos que apoiavam?
Agora, contarei as opiniões dos Pais da Igreja sobre os temas,
guerra e política. Os Pais da Igreja foram grandes teólogos da Igreja Primitiva
(muitos eram até filósofos e historiadores), que ensinavam aos cristãos os
ensinamentos da Palavra de Deus. Muitos deles pregaram heresias, mas outros
foram fiéis ao Evangelho puro e simples. Também tiveram os Doutores da Igreja,
que surgiram com a conversão do Império Romano ao Cristianismo. Tanto os bispos
primitivos quanto os Doutores da Igreja foram homens importantes para a
História da Igreja Cristã.
Clemente de Roma, conhecido como Clemente Romano, foi discípulo do
apóstolo Pedro e cooperador do apóstolo Paulo. Clemente, em sua Carta aos
Coríntios, reconhece que as autoridades governamentais são legítimas, e até
elogia os soldados os usando como bons exemplos a serem seguidos pelos
cristãos. Clemente de Roma ensinou os cristãos a orarem em favor dos
governantes, porque eles são instituídos por Deus.
Policarpo de Esmirna foi discípulo do apóstolo João, e em seu
martírio, registrado no livro “História Eclesiástica” de Eusébio de Cesaréia,
ele afirma em seu julgamento, antes de ser martirizado, que as autoridades
governamentais são estabelecidas por Deus; e de que é lícito pagar os tributos
e os impostos aos governantes. Os Pais Apostólicos reconheciam a legitimidade
das autoridades.
Clemente de Alexandria além de
reconhecer a legitimidade das autoridades governamentais, também apoiava a
guerra justa, pois ele era totalmente a favor do serviço militar. Clemente além
de apoiar as guerras justas, também apoiava as revoluções justas contra
governos tirânicos e opressores. Clemente de Alexandria também defendia a
prática de esportes (como o Pancrácio, a arte marcial grega, muito praticado
pelos cristãos primitivos). Ao contrário de seu discípulo, Orígenes de
Alexandria, Clemente não via problema algum em cristãos matarem nas guerras e
revoluções justas.
Justino Mártir, Ireneu de Lyon,
Teófilo de Antioquia, Melitão de Sardes, Eusébio de Cesaréia e outros bispos da
Igreja Primitiva, também reconheceram que as autoridades governamentais são
legítimas e estabelecidas por Deus. Essa “historinha” de que todos os Pais da
Igreja do Cristianismo Primitivo condenavam o serviço militar é mentira do
Diabo, porque isso não tem embasamento histórico e nem bíblico.
Agostinho de Hipona foi o maior de
todos os Pais da Igreja, e ele foi o responsável por desenvolver a teologia da
guerra justa. Agostinho defendia a pena capital e ensinava claramente que os
cristãos têm a obrigação de participarem de guerras justas para promoverem a
justiça.
Ambrósio de Milão era mestre de
Agostinho, pois foi ele quem o batizou. Ambrósio também era favorável à pena
capital e apoiava a guerra justa, pois ele também reconhecia a legitimidade das
Forças Armadas.
Jerônimo de Strídon foi o homem que
criou a “Vulgata” (a versão em latim
da Bíblia). Esse Doutor da Igreja conhecia a Bíblia inteira, então, ele podia
falar com propriedade dos ensinamentos contidos nela. Jerônimo era a favor da
pena de morte e também apoiava a guerra justa.
Tomás de Aquino, um Doutor da Igreja
da Idade Média, além de apoiar a guerra justa e a pena capital, também apoiava
a legítima defesa, pois ele desenvolveu uma teologia para discutir sobre esse
assunto.
Os reformadores, Martinho Lutero,
João Calvino e Ulrico Zuínglio também apoiavam a guerra justa e eram favoráveis
a pena de morte, além de apoiarem a legítima defesa e as revoluções contra
governos opressores e injustos também. Os luteranos, os huguenotes, os
puritanos e outros protestantes empunharam armas não só para combater nas
guerras justas, mas também para lutarem em revoluções justas contra os seus
perseguidores que os perseguiam por causa do Evangelho.
CRISTÃOS PRIMITIVOS QUE OCUPARAM CARGOS DE AUTORIDADE:
No Concílio de Arles, em 314, a Igreja Primitiva
reconheceu o serviço militar como sendo algo lícito para os cristãos. Deus
nunca condenou as guerras justas. Muito se tem falado de que antes do ano 170
os cristãos não se alistavam no Exército, mas isso é uma tremenda mentira
demoníaca. No ano 170, os cristãos começaram a se alistar em grande número no
Exército por causa da ameaça dos bárbaros que colocavam em risco a segurança do
Império Romano e de seus cidadãos, mas sempre existiram cristãos ocupando
cargos de autoridade (eram poucos, mas eles existiram). O procônsul Lúcio
Sérgio Paulo, e os cônsules, Mânio Acílio Glábrio e Tito Flávio Clemente, foram
bons exemplos disso, pois foram autoridades cristãs. Deus sempre apoiou o
serviço militar. Os oficiais romanos, Sebastião, Jorge, Expedito, Marino,
Marcelo e Maurício foram bons exemplos de militares cristãos que combateram na
época da Igreja Primitiva.
CONCLUSÃO:
A vontade de Deus é que o governo não seja corrupto e nem
repressor, mas, sim, um ministro de Deus para o bem-estar da sociedade. Deus
instituiu as autoridades governamentais para estabelecer a lei e a ordem no
mundo. Por causa do pecado, o homem é ruim por natureza; por isso, Deus
estabeleceu o Estado para que ele seja um intermediador entre os homens. Há
diferença entre a vingança pessoal e a correta justiça aplicada pelo Estado. A
justiça pertence a Deus e as autoridades legalmente constituídas. É errado
fazer justiça com as próprias mãos. Os homens precisam de regras para poder
viver em sociedade. Existem religiosos alienados que dizem que os cristãos são
embaixadores de Cristo e, por isso, eles não podem se envolver com a política e
nem com o serviço militar. Isso é mentira do Diabo, porque Deus nunca condenou
a política e nem o serviço militar. Não existe um versículo sequer na Bíblia
que proíba os cristãos de ocuparem cargos de autoridade. A obrigação de todos
os cristãos é intercederem a favor das autoridades governamentais, para que os
governantes governem com justiça.
Durante a História, existiram incontáveis guerreiros honrados que
lutavam em prol da justiça, e que não deixaram de ser bons por causa disso.
Incrédulos e cristãos que combatiam baseados em princípios e valores que
fizeram a diferença no mundo. Os samurais (apesar da prática do ritual suicida
quando eles eram derrotados) e os cavaleiros medievais eram guerreiros que
tinham princípios morais e bons valores. Como eu gostaria de ter vivido nas
épocas em que os samurais e os cavaleiros existiam. As flechas do cristão
somente podem ser lançadas em nome da justiça. Não justiça para si mesmo, mas
justiça para as pessoas a quem o cristão jurou proteger. O cristão não deve
usar a espada por motivos pessoais, mas apenas para promover a justiça. A
Bíblia não condena os homens lutarem, portanto, que eles lutem por causas
nobres e justas. Mesmo, que tenham cristãos no exército inimigo, se esses
“cristãos” estiverem combatendo do lado errado, eles devem ser combatidos
também. Na Segunda Guerra Mundial, tiveram muitos cristãos que apoiaram Adolf
Hitler, isto é, que eram nazistas mesmo, e eles pediram para morrer, porque
escolheram o lado errado da guerra. Na Guerra Civil Americana, muitos cristãos
eram assassinos cruéis e apoiavam a escravidão, e esses mereceram morrer
também. Em guerras justas, os cristãos devem optar pelo lado justo do conflito,
e não pelo lado do opressor. Portanto, os cristãos que se alistam em exércitos
mal-intencionados, estão arcando com as conseqüências desse ato, e vão colher
exatamente o que plantarem. Quando os cristãos se omitem em situações de
injustiça, eles escolhem o lado do opressor. Essa desculpa de que se o cristão
matar os bandidos e os terroristas irá impedi-los de se converter não têm
embasamento bíblico, pois tanto no Arminianismo Clássico quanto no Calvinismo,
Deus já predestinou os salvos antes da fundação do mundo. Espero ter sido claro e objetivo neste meu
artigo.
AUTOR: Filipe Levi Viasoni da Silva, historiador e professor de
História.